Foi a vontade de deixar de fumar, o gosto pelo exercício (que fui ganhando novamente) e pela fotografia que me puseram neste estado. E o estado é este que vos conto: Viciei-me nisto de pedalar e hoje, com pouco mais de um ano após a primeira volta de bicicleta, já acumulei algumas milhas.


A minha primeira conquista depois de deixar de fumar foi o Caminho de Santiago, como já contei no texto e podcast anterior, mas senti que precisava de algo que me consumisse menos tempo e ao mesmo tempo desfrutar das condições que o meio em que vivo proporcionam para os desportos mais ou menos radicais.

Tinha o bichinho de querer voltar a andar de bicicleta, mas já não andava de bicicleta desde os 18 anos, era ex-fumador e não tinha sequer conhecimentos para fazer uma boa compra de equipamentos. Reunia as condições todas para, se tivesse feito uma série de más escolhas, dar uma volta ao quarteirão e voltar para casa sem ar.

Contudo, ainda na fase teórica das coisas, comecei a ver blogs de pessoal que andava de bicicleta. Um dia, lancei o desafio no Facebook – é uma rede social que critico bastante, mas nisto até foi bastante positivo – a dizer que procurava um bicicleta até mil euros. Já era um plafond interessante para comprar algo em segunda mão, pensei eu.

Só demorei a chegar a esta compra porque tinha optado por transferir os gastos com um vício para investir noutro. Comecei a amealhar o dinheiro do tabaco para comprar a bicicleta e à altura desta compra, em Setembro de 2019, tinha a módica quantia de 1200 euros. É muito dinheiro e que de outra forma, se teria esfumado. Literalmente.  

Várias pessoas mandaram mensagens privadas e públicas, mas curiosamente a primeira mensagem, do Nuno Veloso, dizia: “Se quiseres comprar esta, estás servido”. E “esta” era uma Mondraker, quadro em carbono, roda 29 e uma série de coisas técnicas que na altura não entendia muito bem para que servia.

 

“Arcos de Valdevez é uma localidade privilegiada para andar de bicicleta”

 

Foi essa primeira recomendação que comprei, e que já serviu inclusivamente para uma série de voltas a pedalar com o Nuno e outros amigos. Mas só mais tarde. Inicialmente saía sozinho, para me familiarizar com a bicicleta. Com os pedais de encaixe, que eram uma novidade para mim, assim como as técnicas para de movimentação em cima da bike. 

O Alto Minho, sobretudo na área circundante de Arcos de Valdevez, é uma região privilegiada para este desporto. Há muitas ecovias, mas também muitas alternativas igualmente pacíficas. As estradas das nossas aldeias praticamente não tem trânsito, têm um piso excelente, o que as torna autênticas ecovias. Faço muito uso delas, muitas vezes na companhia do artista arcuense Mutes, pintor, cujo espólio facilmente se pode consultar nas redes sociais e na internet e vale realmente a pena.

“Todos podem deixar de fumar”

 

Em início de Dezembro, fiz-me à estrada para a primeira volta mais dura. Estava um dia fresco, mas bonito. Saí de Arcos de Valdevez (vila) em direcção ao Mezio – ainda não havia baloiço, não parei – e a ideia era seguir até Soajo, mas estava a sentir-me bem com a volta, cortei para a Peneda e só parei junto ao Santuário. Depois desci por Lamas de Mouro (Melgaço), passei por Monção para voltar a terras arcuenses em Sistelo. Feitas as contas, pela aplicação Strava, foram 111 quilómetros, quase seis horas de viagem (5h56) e um total de 2500 metros de acumulado. Do lado dos gastos (energéticos, entenda-se), 4770 calorias.

Foi puxado, para o novato que era há um ano e hoje sinto que é difícil na mesma, mas sinto-me mais à vontade para me aventurar nela. Apesar disso, e para a minha condição há um ano, de ex-fumador sem preparação física, é o melhor exemplo e testemunho de que se as pessoas quiserem conseguem.

Este género de peregrinação à Peneda acabou por surgir espontaneamente, mas acertado. A Peneda é um local emblemático do Alto Minho. O penedo da Meadinha é um maciço granítico impressionante. Como gosto muito de fotografar, só o acto de ir fotografando já me motiva, mas pedalar é um vício que se ganha e quando nos sentimos bem, vamos andando sempre. 

Estas viagem turísticas com claros benefícios físicos tornam-se uma paixão porque, além dos registos que trago das paisagens, ganho em termos de caixa torácica e mesmo um controlo saudável de peso e sentirmo-nos bem vamos andando sempre. Obviamente que isso traz benefícios claros em termos de caixa torácica e controlo de peso. Digo controlo porque não perdi peso, mas não me permitiu engordar. Isto é, até ganhei peso, mas em massa muscular. Sem exercício físico ia por aí acima…

Não há muito a dizer do que levava na mochila porque estávamos em Dezembro e os dias são pequenos, embora esta volta me tenha ocupado uma jornada completa. Levava fruta (uma ou duas bananas da praxe) água e pão (escuro) com manteiga de amendoim. Ainda parei numa padaria que existe em Tibo, se não me engano, que tem um pão que dizem que faz bem ao estômago. A mim fez. 

O Strava diz-me que saí por volta das 9h da manhã e cheguei novamente à vila de Arcos de Valdevez às 17h, já de noite. O Santuário, lá nas alturas da Peneda (pouco mais de 1000 metros de altitude), era já um objectivo conseguido em termos de visita de bicicleta. Será talvez um dos mais duros desta região. 

Já fui várias vezes a Sistelo, a Soajo e mesmo para baixo, Ponte de Lima e Viana, mas este percurso foi mais exigente em termos de subida e descida também porque é muito rápido, muito técnico.

Recentemente, fiz outra volta muito recomendável, para o lado oposto à Peneda, até à Miranda (Arcos de Valdevez) até perto de Corno de Bico (Paredes de Coura). O Outono dá-nos cores fabulosas. Tem que se andar com mais cuidado porque há muita folha e é muito propício a quedas, mas em dias de sol a folhagem dourada, avermelhada e alaranjada dá fotos fabulosas. Ainda assim, não é a mesma coisa que ir à Peneda, pela riqueza da paisagem e pela vida animal que se encontra ao longo do percurso. 

Este ano era para ter ido a Santiago de Compostela de bicicleta, como já contei. Como ficou adiado devido à pandemia, só volto a pensar nisso em 2021, se tudo correr bem e não voltarmos a ficar confinados. 

Assim, até Dezembro quero repetir esta jornada de 2019: Voltar à Peneda, se possível em altura em que haja lá neve, mas num dia sol, claro. Todas as viagens são boas para sacar do iPhone e fazer umas foto, mas queria aproveitar esse contexto. 

E não é preciso muito para me motivar. Só preciso de coragem, o Strava ligado para registar o percurso e instagram para partilhar.

PODCAST


 

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