Fazer o Caminho de Santiago? E porque não? Em jeito de guia para quem procura o máximo de informação antes de se fazer ao Caminho, mas sobretudo para que seja um suporte das minhas memórias desta aventura, deixo-vos o relato desta viagem de nove dias entre o Porto e a Catedral de Santiago de Compostela, que fiz entre 15 e 23 de Março de 2019.
Eu sei, devia ter passado as memórias a limpo há mais tempo, quando tudo ainda estava mais vivo na minha mente, mas como se perceberá mais adiante neste testemunho, foram nove dias fora do meu mundo e quando regressei a casa, a missão da vida e de dar vida tornou-se um compromisso ainda maior. Interessa portanto que finalmente tive tempo para me sentar, alinhar os post-its, juntar os mapas e os retalhos da memória que me permitem alinhar este discurso.
No final de 2018 tinha deixado de fumar. Parece fácil, mas para um desportista aplicado na modalidade de queimar tabaco como eu era, o desmame não seria assim tão pacífico. Não tive recaídas, mas comecei a caminhar para aliviar o stress (e vá lá, perder algum peso que este processo implicou) e a verdade é que a rotina de caminhar começou a ser um novo vício. Tendo em conta o apego, pelo menos este é mais saudável que o anterior.
Hoje olho para o mapa de percurso no iPhone e vejo que foi preciso muita vontade e aprender a lidar com as vozes boas e más para enfrentar 260 quilómetros de caminho, mas ganhei uma experiência que não me foi indiferente, ou não estaria aqui a contá-la.
Além de estar em processo de deixar o tabaco, estava prestes a ser pai do meu segundo filho, por isso era a altura ideal para ter um tempo só para mim, com o mínimo possível e disponível para descobrir coisas novas a cada esquina. Afinal, fazer o Caminho de Santiago não é uma Maratona.
Embora tenha feito etapas entre 22 e 40 quilómetros/dia, houve tempo para parar, contemplar, partilhar momentos (e até comida) com pessoas novas e voltar a casa com uma predisposição maior para ouvir e sobretudo valorizar o tempo. Que a cada dia nos são carregadas 24 horas que temos o dever de fazer valer a pena. Sob pena de um dia, num leito de morte, lamentar o tempo que não valorizamos e disponíveis para trocar tudo o que é material por mais tempo.
Porquê partir do Porto? Sendo minhoto, o mais natural, como a maioria o faz, seria partir de Valença e fazer apenas a parte espanhola do caminho, mas quis fazer o percurso tal como a maioria dos peregrinos estrangeiros fazem quando fazem o caminho português de Santiago.
“É importante sabermos o que é essencial, perguntarmo-nos: O que estás disposto a carregar na tua vida?”
A 15 de Março de 2019, ainda de madrugada, apanho o comboio de Braga para o Porto. Embora só começasse efectivamente o Caminho a partir da Sé, o meu caminho começou ali, entre estações.
Na bagagem, o essencial para fazer a viagem em autonomia. Tudo o que precisava, acomodei em cerca de três quilos e meio de mochila. Para nove dias? Certo, sei que parece aquele tipo de viajante que vai com o mínimo e depois compra tudo no destino, mas garanto-vos que além da alimentação, que consistia essencialmente em frutas e pão, comprados em mercearias em cada localidade do percurso, nada mais foi preciso para sobrecarregar o pack básico de viagem.
É importante sabermos o que é essencial, perguntarmo-nos: O que estás disposto a carregar na tua vida? Porque tudo te pesa. Precisas mesmo de um par de botas, umas sandálias? E se entenderes que sim no dia da partida, ao terceiro dia reduzes ao essencial. Já não precisas do champô de tamanho familiar, cheiroso, nem de uma escova para o cabelo, mas cada um, ao longo do caminho vai descobrir o que é importante para si. A minha história pode não ser igual à tua, mas nesta que conto, parti com isto:
Na mochila
- 4 pares de meias
- 2 calças
- 4 cuecas
- 2 tshirts
- Tshirt (dormir)
- Calção de praia (dormir)
- Óculos de sol
- Capa de chuva
- Saco cama
- Toalha
- Chinelos
- Lenços de papel
- Escova de dentes
- Pasta dentífrica
- Pente
- Protetor solar
- Sabonete
- Sabão roupa
- Desodorizante
- Carregador de iPhone
- Credencial do peregrino
- Garrafa de água
- 2 alfinetes
- Comprimidos Brufen
- Canivete
- Powerbank
- Auscultadores
- Cartão do cidadão
- Cartão de crédito
- Cartão de saúde europeu
- Mefix
- Tesoura
- Agulhas descartáveis
- Creme Nívea
Uma capa de chuva (que acabei por deixar ao fim da terceira etapa, porque apanhei bom tempo); quatro pares de meias (dois para utilizar e dois de substituição, caso não secassem depois de lavar à noite, no albergue); dois pares de calças de tecido leve (que secavam rápido); duas t-shirts para usar de dia e uma para dormir; Uns calções de banho (que usei em jeito de pijama, porque quando se dorme num albergue com mais trinta ou quarenta pessoas convém ter alguma discrição); lenços de papel; sabonete; pasta dentífrica; sabão de roupa e a restante documentação de identificação pessoal (não esquecer o cartão europeu de saúde, que é um importante documento para qualquer assistência médica). Indico ainda assim em lista cada um dos elementos, para quem queira adicionar estes itens à sua mochila.
Reparo apenas para a necessidade do saco cama. No meu caso foi essencial porque pernoitei em albergues municipais, em alguns não há lençóis ou mesmo almofadas. É tudo muito espartano, não há luxos.
Levava, naturalmente, o carregador do iPhone e uma powerbank, porque utilizava o telemóvel para tirar fotos e fazer vídeos e isso consome bastante bateria. Alinhado com este apoio tecnológico estavam também dois alfinetes, que não juntei por temer que a caminhada fosse demasiado diurética e tivesse que prender as calças com eles, mas é um utensílio bastante necessário quando a roupa lavada no albergue não seca a tempo de levantar ferro na manha seguinte. Prender a peça em questão à mochila com um alfinete é muito mais eficaz que a habitual mola. E resulta muito bem, quando o tempo ajuda.
Especial referencia também para as agulhas descartáveis (compram-se em invólucro e esterilizadas) para picar e drenar bolhas nos pés.
Arrumado o saco? Vamos ao caminho.
Etapa um, a partir da Sé, atravessei a cidade. Foi um dia extremamente urbano, mas uma descoberta. A maior parte de nós conhecerá o Porto, mas de dentro de uma janela de um carro. Parecendo que não, é uma bolha em relação ao sentir da cidade como ela é. Percorri ruas da cidade que desconhecia, descobri uma cidade nova, sem mapa nem GPS. O Caminho está todo sinalizado com setas amarelas. Discretos, mas para o peregrino, a cada canto o sinal está lá, no chão, numa parede… Pensei que me perdia, mas descobri uma cidade diferente, e as pessoas são diferentes também, quando és um peregrino. Saúdam com um bom dia ou boa tarde, desejam-te um “bom Caminho”, há muito humanismo quando estás nesta missão e te identificam como tal.
Fiz 39 quilometros, até São Pedro de Rates. Foi muito para um primeiro dia. É muita cidade, muitas ruas, muito cansativo fisicamente. Mas valeu a pena.
O albergue é lindíssimo. É uma casa que parece uma quinta. Com estendais fora, para estender a roupa e lá dentro um sentido de acolhimento como poucos. Uma sala com mesas grandes, bancos compridos para caber muita gente e em volta delas um bocadinho do mundo. Eu era o único português numa babilónia de origens. Não estou muito familiarizado com o sueco nem com o alemão. Assumo, não percebo cheta do que dizem, mas os idiomas não foram obstáculo para a partilha que se gera nestes grupos.
“dar para receber”
Cada um faz a sua comida e põe em cima da mesa para partilhar com todos. Há uma partilha solidária que dá um sentido mais profundo e até comovente ao popular “dar para receber”. Aqui, todos os dias cada jantar é um piquenique onde se dá e recebe… e é tudo muito genuíno. Até a frase, sobre a porta da entrada, anuncia a quem chega: “Bem-vindo peregrino, estavamos à tua espera”, nos cai na emoção e olhando para todo aquele cenário reforça o sentido de missão e pensar: Vou mesmo querer fazer isto.
A cada esquina, literalmente, estão gestos que nos causam comoção e esperança renovada na humanidade. Estaremos também mais susceptíveis, afinal passamos dias apenas connosco, quando a nossa existência está desde sempre estimulada enquanto seres sociais, mas mesmo à distancia de mais de um ano desde esta viagem há pormenores que me ficaram gravados e com o mesmo sentimento de esperança.
Nos primeiros dias de Caminho ainda não sabemos bem gerir os consumos, de água ou dos reforços alimentares. Num momento em que, com a garrafa de água vazia, pensava como reabastecer, numa curva do caminho há uma cesta com água e fruta penduradas e uma folha a indicar que era “Free/Grátis”. Isto soube-me tão bem! É verdade que as melhores coisas do Caminho são grátis. Tão maravilhosamente simples, mas que nos enchem o coração.
“Se estás cansado, pára.”
São Pedro de Rates a Barcelos. 25 quilómetros, mais tranquilos mais um dia chuvoso. Comecei cedo, sem ver bem o caminho, muito menos a paisagem. Um dia pela missão. Com o calçado apropriado e a capa de chuva (que mais tarde ficaria pelo caminho, no cumprimento da questão sobre o que é essencial). O cinzento da paisagem acompanhou-me até ao dia em que fiz Barcelos – Ponte de Lima. Se o tempo desmotiva? Num percurso destes, temos tempo para pensar em tudo. Há sempre duas vozes, a boa, que nos encoraja a honrar o compromisso que temos connosco e com os que nos rodeiam, e a má, que está constantemente a dizer-nos que entre uma caminhada e estar em casa a actualizar o feed do Facebook (ou outra dessas redes sociais de massagem ao ego) era bem preferível a segunda hipótese. Recordo-vos que este caminho foi feito em tempo pré-pandemia covid-19, portanto todos os confinamentos que se faziam eram voluntários. Só em 2020 passaram a ser uma vantagem e um apelo no jornal das 8.
Foi também em Ponte de Lima que voltei a ver o Vicente, o meu filho mais velho, à altura com quase três anos, e a Lucie, a minha esposa, gravidíssima do meu segundo rebento, que nasceu em Junho desse ano. É verdade, eram apenas três etapas – ou seja, três dias fora – mas neste caminho tudo se torna mais intenso, tudo é sentido a dobrar.
Dizem que as mulheres nesta fase da gravidez andam com as hormonas alteradas, mas acho que os pais também. Já tinha três dias fora, muitas horas de silêncios e quase cem quilómetros de caminho nas pernas, estava com outro ritmo. Mais disponível para os ouvir, para estar com eles. Adorei aquela pausa com eles. E Ponte de Lima é uma vila belíssima.
Foi também aqui que conheci um dos peregrinos mais marcantes desta viagem. O Carmelo, um italiano que já tinha feito dezenas de caminhos peregrinos – em Março de 2019 já tinha três ou quatro no lombo – e era uma verdadeira enciclopédia sobre como sobreviver a estes desafios, mas também um companheiro de viagem valioso pelos valores que partilhava.
Um dos conselhos, tão técnicos quanto minuciosamente importantes tem a ver com aquilo a que sujeitamos o nosso corpo. E o essencial daquilo que me transmitiu e que tornei mandamento no Caminho tem a ver com isso mesmo: Se estás cansado, pára, respira. Com tantas horas a ouvir-nos e a sentir-nos, aprendemos a sentir o nosso corpo. E uma bolha num pé é um sinal de que estamos a contrariar o corpo. Por isso, se estás cansado, pára. De pé, só a respirar, 30 segundos, um minuto. É um processo quase meditativo, se estiveres em silêncio, a sentir a respiração, a deixar o corpo libertar a tensão. Ao recomeçar a caminhada, vais sentir mais força. E não é conversa de guru, tem mesmo efeito sobre o corpo.
Também aprendi com o Carmelo a fazer a massa (ou pasta, em italiano) mais simples e saborosa que já provei na vida e que ainda vou fazendo de vez em quando, para não me esquecer. E é verdade que ainda hoje, seguindo a receita à risca, consigo saboreá-la com o mesmo deleite que naquela altura.
É a coisa mais espectacularmente simples de preparar. Basta a massa, tomate, alho e um bocadinho de queijo mozzarella para fazer a melhor comida do mundo. Eu estava com o palato disposto a apreciar tudo, mas como já confessei, ainda hoje saboreio esta preparação como o melhor dos manjares. Agora, vá-se lá saber se é a minha cabeça que, encantada com toda esta experiência, me está a pedir para calçar as sapatilhas de novo e fazer-me ao caminho…
Entretanto, o Carmelo passou a ser uma companhia frequente, ao longo do percurso. Chegamos a almoçar nos mesmos sítios ou até falar sobre o albergue em que se ficaria nessa noite. Em Pontevedra ele seguiu pela Variante espiritual do Caminho, mas continuei a trocar mensagens com ele.
Antes de entrarmos em Espanha, falar-vos das etapas portugueses para dois momentos. Primeiro, a etapa de Ponte de Lima a Paredes de Coura (Rubiães), que não sendo grande, é se calhar das mais duras do percurso, por causa da subida das Pedras Finas. Valeu bem a pena a paragem em Coura, pela pausa e porque foi onde aprendia fazer a massa que sabe pela vida com o Carmelo.
Foi também onde o grupo de conversação se foi tornando tão variado quanto uma anedota antiga do Cantiflas: Um português, um turco e um italiano vão a um caminho… Só não coloquei na frase um espanhol porque não tinha aqui um francês para cumprir o cliché, mas também havia. De Barcelona.
Na última etapa em Portugal (Paredes de Coura – Valença do Minho, mais ao menos 20 quilómetros) mudei um pouco a identidade. Física, mesmo. Numa introspecção sobre o que era mesmo essencial para o caminho, questionei a importância de uma barba de seis meses que transportava. Mandei-a abaixo sem mais contemplações. Foi um alívio no rosto, mas também de alguma confusão para os peregrinos que já se tinham cruzado comigo no caminho. Terão pensado que mudanças se teriam operado em mim para abandonar a barba de uma vida (para eles era a minha identidade, suponho que julgassem que a tinha desde que o buço se tornou algo sério), mas cheguei a Valença e já nem a barba era essencial.
O albergue de São Teotónio foi se calhar das noites mais animadas e menos dormidas de todo o percurso. Calhou a noite que fosse também a da chegada de um grupo de alunos de uma escola do Porto, com adolescentes e jovens que tinham, à laia projecto de visita de estudo, o Caminho de Santiago, a partir de Valença.
Como seria de esperar num grupo de jovens, a sintonia com o Caminho e a preparação para o percorrer era muito ao estilo de cada um: Pessoal de chinelos, outros de sapatilhas Adidas, AllStar, tudo malta jovem do style, de phones para ouvir música. Seria um interessante exercício para eles, para perceberem a mensagem que falava nos primeiros parágrafos. Com o tempo, vamos priorizando o essencial.
Mas voltando a mim e a alguma desventura desta etapa, a chegada deste grupo tomou conta de grande parte do albergue, acabei por ficar numa cama ao pé de um senhor que roncava muito, não consegui adormecer. Estive na conversa com o grupo da escola até tarde e dada alguma insónia pelas circunstâncias, aí pelas quatro da manhã, decido dar um avanço à minha etapa de entrada em Espanha. Ainda só a lua lançava uma luz ténue sobre a cidade quando ponho a mochila às costas e me lanço à muralha. Sem sorte.
As setas diziam que era por ali, mas o amuralhado, à altura em obras, tinha as entradas fechadas. Contorno aquele colosso da história defensiva portuguesa, que tanto valeu à nação para defender as investidas espanholas, mas (talvez por isso) não havia forma de conseguir acompanhar as setas orientadoras que me levassem a entrar em terras galegas. Com a sorte neste estado, aguardei que o Carmelo, o italiano, começasse a jornada para entrarmos em Espanha como deve ser.
Não antes sem um dos alunos do grupo escolar, em tom de brincadeira, bem-sucedida entre os pares, questionar as minhas capacidades de caminhada por ter acordado às quatro da madrugada apenas para chegar a tempo do pequeno-almoço a uma pastelaria no mesmo concelho. Cada um tem o seu ritmo.
De Valença a Mós (Galiza) são 30 quilómetros de caminho, que compensei com a minha (e única) saída com outros peregrinos para jantar fora, num restaurante, Soube-me bem comer algo mais preparado, beber vinho e estar com o grupo. Importante referir que os restaurantes existentes ao longo deste percurso têm um menu para peregrinos, com preços bastante mais reduzidos.
As etapas
De Mós a Pontevedra e daí a Padrón foram etapas tranquilas, em ecovia ou mesmo em caminhos já limpos para efeitos de peregrinação a Santiago. Há muito pouco deste caminho que percorre estradas nacionais, excepto nas saídas para as localidades.
Nestes últimos dias decidi fazer duas etapas, o que seria equivalente a dois dias, num só. Saltei de Padrón sem provar os pimentos, por isso não sei “por qué uns pican e outros non”. Por mim, foi porque não provei nenhuns. Sei apenas que há inclusive uma protecção DO [Denominação de Origem] e toda uma descrição de prova tão elaborada quanto um vinho ou outra iguaria gastronómica, mas aquando da minha passagem por ali, não era altura dos pimentos. Diziam que os pimentos que houvesse não eram os originais que dão nome à terra e por isso de péssima qualidade.
Passei por isso a experiência por extemporânea e também porque queria chegar à Catedral de Santiago no dia que tinha combinado com o João e a Eliane, dois amigos da Trofa que foram acompanhando a minha viagem pelas redes sociais e que fizeram questão de me receber lá, no dia da chegada.
Cheguei assim a Santiago no dia 23 de Março, um dia antes do previsto. Ansioso por encontrar os amigos, ver a Lucie e os meus pais, mas tudo me estava à flor da pele.
Vinha de nove dias de silêncios, de partilhas diferentes, de desafios, de caminhos… Chegar a Santiago, com tanta gente que chegava como eu, há um sentimento de união e de missão que não se consegue descrever. Vi, nesta meta, colegas de viagem que vi em Barcelos, em Mós, em Pontevedra, mas que ao nos reencontrarmos ali parecia que nos conhecíamos há anos. É maravilhoso.
Faço este relato para recordar nove dias de Caminho, para mim e para quem venha a investir nesta jornada. Gostava que alguém que fez o caminho francês, por exemplo, fizesse um texto assim, para me preparar para o desafio.
Para quem pondere fazer esta variante do Caminho de Santiago, pouco mais é preciso do que alguma preparação – talvez uns quinze dias antes fazer caminhadas de quinze a vinte quilómetros – e tempo. Como já o disse, é o mais valioso neste processo. Quanto a despesa financeira, com cem euros é possível fazer o caminho, optando sempre pelos albergues municipais e uma alimentação baseada em fruta, pão , barras de cereais, água, algum café e um ou outro almoço fora, com as ementas para peregrinos. Mas o caminho faz com que tudo corra bem. Tenho a certeza de que, se houver um peregrino que por alguma eventualidade não tiver os cinco ou dez euros para pagar o albergue, alguém vai pegar nesse valor e pagar por ele. O Caminho é assim… Tudo nos cai bem. Até aquele abraço de um senhor em Padrón, que recebe todos os peregrinos com um abraço e um cumprimento efusivo. Podemos até conceber que há alguma teatralidade no gesto, mas naquele momento tudo é emotivo e um alento.
Na tarde do dia 23 de Março fui descobrir Santiago de Compostela com a Lucie e os meus pais, já num registo mais turístico, mas eu ainda estava em toda aquela bolha especial desta missão. Contudo, a minha vida dizia-me que estava a superar o tabaco e prestes a ser pai novamente. E sabem que mais? Foi no momento certo.
Em 2021, se a pandemia nos deixar e as comemorações do Ano Jacobeu se realizarem, volto a Santiago. De bicicleta. É o meu novo vício.
Recomendo a leitura
Guia dos Caminhos de Santiago, de Paulo Almeida Fernandes, Publicado por Porto Editora
A Arte de Caminhar, Um Passo de Cada Vez, de Erling Kagge, Publicado por Quetzal Editores
Site: www.gronze.com